Ambiente, nosso meio

4 de junho de 2021 - 10:32

Artigo de autoria do Diretor de Inovação Tecnológica João César De Freitas Pinheiro

Em 14 de fevereiro de 1990, a sonda Voyager 1 estava a 6 bilhões de quilômetros da Terra, voltou sua câmera para nosso planeta e fez uma fotografia, a famosa “Pale Blue Dot” ou o “Pálido Ponto Azul”. Um pequeno ponto na imensidão do espaço iluminado por um raio solar, menor do que um pixel, o ambiente em que vivemos.

Esse pequenino grão rochoso, envolto em água e gases, que veio se transformando através de suas dinâmicas interna e externa há 4,5 bilhões de anos, é nossa casa, nossa nave, deveria fazer crescer em nós um sentimento de afeto, uma vontade de administrar nossa vida para respeitá-lo. Principalmente, porque nele surgimos e nele iremos acabar, de uma forma ou de outra.

Inventamos religião e ciência, buscando a compreensão da finalidade de nossa existência nesse minúsculo pedregulho que gira em torno de si próprio e ao redor de uma estrela. Em brevíssimo tempo fomos coletores-caçadores, agricultores, industriais, e agora estamos trilhando os caminhos da internet das coisas, automação, robótica, inteligência artificial e outras artimanhas. Em toda a nossa pequena-grande história na busca da “felicidade” e do “conforto” que estão longe de ser globalizados.

Creio que não mais permanece a questão: “O homem é o lobo do homem”, como disse Thomas Hobbes (1588-1679). Segundo ele, os seres humanos possuem uma tendência natural à violência, dominam a natureza, mas encontram em outros seres humanos os seus grandes rivais, seus verdadeiros predadores naturais. Uma visão bem cruel do nosso caráter de indivíduos em “estado de natureza”, desconfiados uns dos outros, em disputas eternas, gerando mortandade. Não creio que, no geral, ainda perdure tal estado. O próprio Hobbes também disse que pode ser celebrado um pacto ou contrato social no qual os seres humanos passam a submeter-se a um governo que possa, através das leis, garantir-lhes uma vida segura.

Trezentos milênios nos trouxeram da revolução cognitiva até Hobbes, John Locke (1632-1704) – pai do liberalismo, Jean-Jacques Rousseau (1712-1778) – “o homem nasce bom e a sociedade o corrompe” e Karl Marx (1818 – 1883) – concepção materialista da história. O que mais nos anima nessa trajetória, dentro dos conceitos de economia política, é existir atualmente o conceito de “economia ecológica”.

Os dois “choques do petróleo”, no início da década de 1970, colocou em conflito econômico o mundo árabe contra os Estados Unidos da América sobre produção e consumo de petróleo. Emergiu com mais vigor a discussão iniciada no Clube de Roma (limites do crescimento) sobre a “questão ambiental”. Aprofundou-se uma crítica ao modelo de “desenvolvimento econômico”. Essa crítica persiste. Pesquisadores apontam que se mantendo o nível atual de consumo, em 2100, serão necessários dois planetas Terra para suprir as demandas.

No intuito de dirimir as celeumas entre quem defendia o “crescimento zero” e os “desenvolvimentistas”, veio o Relatório Brundtland (1987), rescaldo da Conferência das Nações Unidas sobre Ambiente e Desenvolvimento (UNCED) de Estocolmo (1972). Criou-se assim o conceito de “Desenvolvimento Sustentável”. Montaram-se os conselhos de meio ambiente e as atenções se voltaram para a tríade “meio físico”, “meio biótico” e “meio socioeconômico”,

estudos de impacto ambiental (EIA), relatórios de impacto ambiental (RIMA), programas de recuperação de áreas degradadas (PRAD), arcabouços jurídicos, legislação, fiscalização, multas, instrumentos diversos.

O fato é que os empreendedores adentram solos, subsolos, biosfera, hidrosfera, atmosfera dos ecossistemas, tentando se equilibrar dentro de um triângulo equilátero cujos vértices são: 1. Preservação da Qualidade do Meio Ambiente; 2. Sustentabilidade Econômica e 3. Responsabilidade Social. Nem eles e nem o poder público possuem o completo e necessário conhecimento de como funcionam estes ecossistemas e seus inter-relacionamentos no Ambiente. Inter-relacionamentos estes cuja compreensão científica ainda não é totalmente satisfatória ou ainda não está disponível aos agentes econômicos.

Quais saídas a humanidade teria para suplantar suas mazelas da pobreza e da miséria? Buscar soluções na filosofia, nas ciências humanas e sociais, nas geociências, nas ciências exatas, nas ciências biológicas, na política e na adoção das inovações tecnológicas, respeitando as tecnologias includentes de variadas culturas e a aplicação de recursos com maximização da qualidade de vida.

 

Referências

1. Sagan, Carl (9 de setembro de 1990). «The Earth from the frontiers of the Solar system – The Pale, Blue Dot». PARADE Magazine
2. Vasconcelos, V.V. (2004), As leis da natureza e a moral em Hobbes, Universidade Federal de Minas Gerais.
3. Tomás Várnagy. «O pensamento político de John Locke e o surgimento do liberalismo» (PDF). Filosofia política moderna. De Hobbes a Marx. Consultado em 20 de setembro de 2017
4. Paula, João Antônio de Paula Antônio de (1 de outubro de 2013). «Rousseau, Marx e a economia política». Revista da Sociedade Brasileira de Economia Política. ISSN 2595-6892. Consultado em 26 de dezembro de 2020
5 Martinez-Alier, J. Economia Ecológica. International Encyclopedia of the Social and Behavioral Scientes, entry 91008. Traduzido por Joseph S. Weiss e Clóvis Cavalcanti.